A nova edição do Atlas da Federação Mundial da Obesidade (WOF, na sigla em inglês) traz um chamado para que os países, inclusive o Brasil, aumentem os esforços para combater a pandemia de obesidade, condição que está ligada a doenças crônicas não transmissíveis como câncer, diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares. No documento, a entidade prevê que metade da população adulta do mundo estará vivendo com sobrepeso ou obesidade em 2030, o que já é visto como um fracasso nas metas estabelecidas pela Assembleia Mundial da Saúde para 2025, que previam a interrupção do aumento de casos de diabetes e obesidade, além de redução das mortes prematuras por doenças associadas ao excesso de peso.
O levantamento aponta que o mundo “dificilmente cumprirá” a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) previstas em 2015 para o ano de 2030 de reduzir em um terço as doenças crônicas não transmissíveis por meio de prevenção e tratamento. Em carta de apresentação do documento, o presidente da WOF, Simón Barquera, e a CEO Johanna Ralston, convocam as nações para uma reflexão sobre o momento crucial para intervenções para reverter o avanço da doença em meio às celebrações do Dia Mundial da Obesidade, comemorado nesta terça-feira, 4.
“Se as tendências atuais continuarem, o sobrepeso e a obesidade afetarão quase 3 bilhões de adultos (cerca de 50% da população adulta mundial) até 2030. Há também um aumento preocupante no número de adultos com obesidade que provavelmente precisarão de intervenção médica ao longo da vida, o que trará sérias implicações para os sistemas de saúde”, afirmaram.
Atualmente, considerando apenas a obesidade, o número de pessoas que convive com a doença é de 1 bilhão e pode passar de 1,5 bilhão em apenas cinco anos — a entidade projeta ainda que, entre 2010 e 2030, o mundo terá registrado um aumento de 115% nos casos de obesidade –. O dado é preocupante, tendo em vista que a condição está relacionada a 1,6 milhões de mortes por ano.
O tom do Atlas é firme em críticas às estratégias adotadas pela indústria alimentícia para se manter presente na despensa da população e enfatiza que os países contam com sistemas falhos para conter a obesidade.
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Ele cita que nenhum país estabeleceu todas as cinco políticas indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a promoção de dietas e estilo de vida saudáveis: impostos sobre bebidas açucaradas; impostos sobre alimentos ricos em sal, açúcar, gorduras e gordura saturada; subsídios para alimentos saudáveis; restrições à publicidade voltada para crianças; impostos para promoção de atividades físicas.
“Descobrimos que nenhum país tinha todas as cinco políticas e ações em vigor e apenas 17 países tinham três ou quatro. De forma alarmante, 126 países tinham uma ou nenhuma política em vigor para prevenir a obesidade”, diz. O Brasil aparece na lista daqueles que implementaram três das cinco medidas.
Obesidade no Brasil
Assim como nas outras edições, os países ganharam um raio X com indicadores relacionados à doença. No Brasil, foi apontado que 68% da população adulta vive com sobrepeso e a obesidade atinge 31%.
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É estimado que 119,1 milhão de brasileiros terão índice de massa corporal (IMC) elevado em 2030, um cenário preocupante, considerando que 60,9 mil pessoas morreram de forma prematura por doenças relacionadas ao excesso de peso em 2021. O levantamento mostrou ainda que o percentual de sedentarismo está entre 40% e 50%.
De acordo com as projeções, número de homens com obesidade pode aumentar em 33,4% até 2030. Na população feminina, crescimento pode ser de 46,2%.
“Com 31% da população brasileira com obesidade, não dá mais para falarmos que cada um tem que mudar sozinho, que é a mudança individual. É necessário mudar os sistemas”, diz, em comunicado, Bruno Halpern, presidente eleito para WOF na gestão 2026-2027, referindo-se a ações governamentais e de sistemas de saúde.
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O sistema alimentar que expõe as pessoas a opções nada saudáveis, como os ultraprocessados, além da necessidade de oferta de tratamento são lembrados por Fábio Trujilho, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
“É urgente sermos assertivos em políticas públicas na prevenção da obesidade. Juntarmos forças e entender que o problema não está nas pessoas que vivem com obesidade e sim no ambiente obesogênico que vivemos . Também não podemos esquecer do número alarmante de pessoas que convivem com obesidade e tornar viável uma linha de cuidado no tratamento dessas pessoas. É hora de agir. E rápido!”
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