O câncer de próstata, em sua fase inicial, não costuma apresentar sintomas e tem uma evolução silenciosa. Quando os pacientes apresentam sintomas, eles podem ser semelhantes ao aumento benigno da próstata, incluindo dificuldade para urinar ou maior vontade de ir ao banheiro durante o dia, ou à noite. Mas, afinal, como diferenciar as duas doenças?
Primeiro, é preciso entender o que é cada uma das condições. O aumento benigno da próstata, também chamado de hiperplasia prostática benigna, como o próprio nome sugere, é o aumento do número de células da próstata, levando ao crescimento da glândula.
Câncer de próstata: mulheres trans têm menor risco, mas dados são insuficientes Câncer de próstata: 10 mil pacientes não têm acesso à radioterapia no SUS ao ano 60% dos casos de câncer de próstata são em negros, alerta especialista
“O aumento benigno da próstata é uma proliferação que acontece naturalmente do tecido da próstata a partir dos 40 anos. Essa proliferação depende de fatores genéticos, então há homens que têm uma propensão maior a terem a hipoplasia benigna da próstata, mas também há questões hormonais, alguns homens sofrem mais efeito da testosterona do que outros”, explica Bruno Benigno, urologista e oncologista do Hospital Oswaldo Cruz e diretor da Clínica UroOnco, à Meio e Saúde.
Segundo o especialista, outros fatores podem estar associados ao aumento benigno da próstata, como o sedentarismo, o diabetes e o uso de suplementação de testosterona. “Essa é uma doença extremamente comum e a faixa etária mais comumente afetada são os homens a partir dos 40 anos”, completa.
Já o câncer de próstata é a multiplicação de células da próstata de forma anormal, com formação de um tumor. As causas exatas para essa proliferação ainda são desconhecidas, mas fatores genéticos (como mutações nas células que podem fazer com que elas não se desenvolvam normalmente), idade, obesidade, sedentarismo e tabagismo podem aumentar o risco.
Ter um pai ou irmão com câncer antes dos 60 anos também pode aumentar o risco de ter a doença. Além disso, exposições a aminas aromáticas, arsênio, produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas estão associadas ao câncer de próstata.
Sintomas são parecidos, mas surgem em momentos diferentes
Os principais sintomas do aumento benigno da próstata incluem:
Jato fraco da urina;Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga;Acordar várias vezes durante a noite para ir ao banheiro;Dificuldade para urinar.
“No câncer de próstata é o contrário. Cerca de 70% dos homens não têm qualquer sintoma. Então, o câncer, por natureza, é uma doença silenciosa, porque ela ocorre, geralmente, na parte externa da glândula”, explica Benigno. “Porém, quando o câncer de próstata causa sintoma, muito em decorrência da infiltração do tumor pelos tecidos ao redor da bexiga, da uretra e, até mesmo, do intestino, o paciente pode ter dor pélvica, dor abdominal, dificuldade para evacuação, sangramento na urina e sangramento na evacuação”, elenca o urologista.
Nos casos de metástase, ou seja, quando o câncer já se espalhou para outras áreas do corpo, o paciente pode sentir, ainda, dor nos ossos, dores musculares, queda do estado geral de saúde e perda de peso.
Exames são necessários para diferenciar as doenças
Por terem sintomas semelhantes, a forma de diferenciar o câncer de próstata do aumento benigno da próstata é por meio de exames físicos e laboratoriais.
“O primeiro deles é fazer um rastreamento baseado nos sintomas do paciente, idade e dos fatores de risco. Além disso, é importante dosar os níveis de PSA no sangue”, explica Benigno. PSA é o antígeno prostático específico, proteína produzida pelas células da próstata.
“Homens que têm um PSA mais alto têm mais risco de apresentarem câncer de próstata. Além disso, a velocidade com que o PSA aumenta também pode ser um indicativo de câncer. Homens com câncer tendem a ter uma velocidade de aumento do PSA mais rápida do que aqueles com hiperplasia benigna da próstata”, afirma o especialista.
Se ainda houver suspeita, o médico pode solicitar um exame de ultrassom para avaliar, além do crescimento anormal da próstata, a presença de nódulos na glândula.
“A suspeita persistindo ainda de forma muito forte, dois exames são essenciais: a ressonância magnética, para achar focos de nódulos que não foram vistos pelo ultrassom, e o exame de biópsia, que é a única forma de confirmar ou afastar a existência de um câncer de próstata”, afirma Benigno.
Segundo o urologista, a biópsia é um exame invasivo e, por isso, não costuma ser solicitada logo no início da suspeita de câncer. “Portanto, os homens seguem por uma esteira de triagem, chamada rastreamento, e só aqueles que têm uma suspeita alta de ter câncer de próstata são submetidos a esse exame”, completa.
Após feita a diferenciação, o tratamento é definido. Para o aumento benigno da próstata, podem ser usados medicamentos para melhorar os sintomas da doença e, em casos de retenção urinária, pode ser feita a sondagem para drenar a bexiga. Em alguns casos, pode ser indicado o tratamento cirúrgico para remover o tecido excessivo na próstata.
Já o tratamento do câncer de próstata pode variar segundo o estágio do tumor. Para a doença localizada, pode ser indicada a cirurgia, radioterapia ou observação vigilante. Para a doença avançada, pode ser feita a radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal. Em caso de metástase, o tratamento mais indicado é a terapia hormonal.