O ano de 2024 foi de recordes no número de queimadas e incêndios provocados pelo calor extremo e por estratégias de desmatamento – e ao que tudo indica, tomando como base o episódio em Los Angeles, 2025 não será diferente. Esse cenário favoreceu a realização de estudos que investigam o impacto desses desastres na saúde e os resultados apontam para consequências ainda mais preocupantes do que se sabia até agora.
As principais delas estão muito relacionadas à poluição que esses eventos provocam. Isso acontece porque o fogo intenso leva a produção de partículas que ficam suspensas no ar. Existem diversos tipos delas, mas as principais são conhecidas pelos técnicos como PM 2.5 e são as mais preocupantes por, devido ao seu tamanho muito diminuto, conseguirem transpor as barreiras do sistema respiratório e chegar ao pulmão.
Só por serem corpos desconhecidos se depositando num órgão sensível, elas já causam problemas. “Podem surgir quadros agudos de inflamação pulmonar e agravamento de doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema e fibrose pulmonar”, explica Elie Fiss, pneumologista do Alta Diagnósticos. “Isso tudo além de casos de hipersensibilidade e insuficiência respiratória.”
O que estudos recentes apontam, contudo, é que as consequências de respirar partículas das queimadas e incêndio podem ir além. Elas são, de fato, um perturbador físico, mas como uma diversidade de materiais diferentes são queimados nos incêndios – plásticos, metais, tinta, etc – elas carregam substâncias que podem ser tóxicas e inflamatórias.
Quais os efeitos dos incêndios na saúde?
O sistema respiratório está intimamente relacionado à saúde cardíaca, então é mais que esperado que o coração também seja afetado por essa exposição. “Picos de poluição estão associados a arritmias, angina e infartos, com um aumento significativo de atendimentos emergenciais e internações em hospitais especializados”, explica Fiss.
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Mas não para por aí. As fumaças de queimadas e incêndios também podem afetar outros sistemas do organismo e a revista Wired levantou alguns dos principais deles, apontados por pesquisas científicas publicadas no ano passado:
Fertilidade: um estudo realizado com 69 pacientes em Oregon após os incêndios de 2020 apontou que pessoas expostas a ar das queimadas produzem menos blastocistos, aglomerados de células fecundadas que dão origem ao embrião, do que aquelas que respiraram ar menos poluído.
Morte prematura: outra investigação que acompanhou moradores da Califórnia por dez anos e foi publicada na Science Advances aponta que entre 2008 e 2018, a exposição às partículas de incêndios provocou mais de 50 mil mortes prematuras no estado.
Saúde mental: uma pesquisa realizada com 10 mil pré-adolescentes mostra que crianças expostas condições inseguras de qualidade do ar tem mais chance de experimentar sintomas de depressão e ansiedade até um ano após a exposição.
Doenças neurodegenerativas: um estudo realizado com ratos de laboratório que simula a exposição a fumaça vivida por bombeiros mostra que os animais sofrem danos genéticos compatíveis com o desenvolvimento de doenças como Alzheimer e Parkinson.
Demência: uma outra investigação com mais de 1,2 milhão de moradores do Sul da California publicada na JAMA Neurology sugere que o aumento de exposição à material particulado proveniente de incêndios aumenta consideravelmente as chances de desenvolvimento de demência.
Como se proteger das fumaças de incêndio?
Hoje, com o avanço dos focos de queimada e incêndio, muitas pessoas estão expostas à fumaça. Um levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (Cnm) entre agosto e setembro no Brasil, por exemplo, revela que mais de 10 milhões de brasileiros foram afetados pelos incêndios nos biomas brasileiros. Algumas medidas podem ajudar a diminuir os impactos na saúde:
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Se afastar dos focos mais intensos de incêndio
Usar máscaras com alto poder de filtração, como a N95
Instalar sistemas de filtração de ar em casas, hospitais, escolas e abrigos
Além disso também vale pensar no desenvolvimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) mais eficazes para brigadistas e, é claro, trabalhar intensamente para reduzir os focos de queimadas e incêndios evitáveis.
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