No Brasil, as longas esperas para agendamento e consultas médicas são as principais dificuldades enfrentadas por pacientes com diabetes, segundo o estudo Radar Nacional sobre Tratamento de Diabetes no Brasil. Esses prazos receberam notas de 4,8 em uma escala de 0 a 10, refletindo uma insatisfação generalizada. A situação é ainda mais crítica entre as classes D/E e a população preta, com médias de 2,9 e 2,6, respectivamente.
A pesquisa, coordenada pela Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade e realizada pela consultoria Imagem Corporativa, revelou que aproximadamente 2 milhões de pessoas com diabetes no Brasil não recebem acompanhamento adequado, já que 10% dos entrevistados afirmaram não fazer consultas regulares, e 6% o fazem com menor frequência do que o necessário.
O descontrole glicêmico é uma consequência desse cenário: 30% dos pacientes apresentaram exame de hemoglobina glicada (teste utilizado no controle da doença) superior a 7%, e 42% não souberam ou não lembraram desse indicador, essencial para o monitoramento.
A maior parte dos pacientes (58%) é acompanhada por médicos de família. E a falta de acesso aos endocrinologistas, treinados para tratar o diabetes, limita um cuidado especializado e pode comprometer a qualidade do tratamento.
Essa carência de especialização não raro se reflete em complicações significativas: 12% dos entrevistados relataram retinopatia, 32% neuropatia, 25% doenças cardiovasculares, 23% disfunções sexuais, 10% nefropatia e 10% lesões nos pés.
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Acesso limitado a profissionais e medicamentos
O levantamento aponta que a quantidade de médicos disponíveis e a dificuldade em fazer exames também são desafios. Com notas médias de 5,6 e 5,5, respectivamente, esses fatores demonstram a precariedade enfrentada, especialmente entre aqueles que dependem exclusivamente do sistema público.
Para os que não possuem plano de saúde, a espera para consultas foi avaliada com uma média de 4,3, enquanto entre os beneficiários essa nota sobe para 6,3.
Apesar da nota 6,0 atribuída à facilidade de conseguir medicamentos, esse é considerado um dos fatores mais importantes para o tratamento na visão de 60% dos entrevistados. O papel do SUS é essencial nesse sentido: 77% utilizam serviços públicos para consultas e 67% fazem exames pelo sistema. Até mesmo entre os que têm plano de saúde 73% recorrem a medicamentos gratuitos ou subsidiados pelo governo.
Vacinação e desafios educacionais
A pesquisa revelou que a maioria (69%) desconhece vacinas especiais indicadas para pessoas com diabetes. Apesar da alta adesão aos imunizantes contra covid-19 e gripe, apenas 57% já se vacinaram contra hepatite B.
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O uso dos CRIEs (Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais), que fornece produtos médicos aos pacientes, é baixo: 60% dos entrevistados nunca ouviram falar do serviço, e somente 11% já se vacinaram nesses centros, com a taxa subindo para 20% entre pacientes com diabetes tipo 1.
Perfil dos pacientes e a pressão sobre o sistema de saúde
O estudo mostrou que 52% dos que referem ter diabetes pertencem à classe C, com renda de até dois salários mínimos. Pretos e pardos somam 52% dos respondentes, e as mulheres correspondem a 58%, uma porcentagem ligeiramente superior à média populacional. A maior parte dos pacientes (56%) tem mais de 60 anos, refletindo o desafio do envelhecimento da população e o impacto crescente sobre o sistema de saúde.
A pesquisa realizada entre 1º de julho e 22 de agosto de 2024 com 1.843 participantes revela um cenário que exige ações imediatas para melhorar o acesso a tratamentos especializados e o acompanhamento da doença. Se não houver investimentos em mais profissionais e políticas públicas efetivas, as barreiras enfrentadas hoje poderão se agravar com o aumento da população idosa.