Assim como o filme A Baleia, que narra a história de um professor com 270 kg em busca de redenção e cujo título não pretende desmerecer quem convive com a obesidade, meu texto se vale de uma metáfora para raciocinarmos juntos o que precisa ser considerado no tratamento do excesso de peso.
A metáfora, no caso, é um esporte que encanta, mexe com as emoções, move paixões e nos torna fiéis e confiantes a cada partida.
Então imagine o sentimento de ser torcedor de um time de futebol que não ganha nada há anos, mas que, com um trabalho duro e persistente, levanta o troféu depois de amargar tantas derrotas. Algo parecido pode acontecer diante da obesidade.
Às vezes, o paciente fica desmotivado e acha que o emagrecimento é um objetivo distante. A vontade de desistir supera a de insistir. Incompreendidas, essas pessoas já não pensam mais no troféu – sua saúde -, mas em não serem rebaixadas, sofrendo com estigmas e doenças. De qualquer forma, o importante é a bola não parar.
Nesse contexto, quem tem obesidade precisa entender que é também um torcedor; não do seu time de coração, mas de algo mais importante: torcedor de si mesmo! Mas é torcedor que joga junto. Pois ninguém poderá substituir você mesmo na partida.
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As disputas serão diárias, difíceis, por vezes com prorrogação, cartões e pênaltis. Mudanças acontecerão – no tratamento e inclusive de médico. Mas a vontade de vencer não pode sucumbir.
Campeonato Brasileiro, Liga dos Campeões, Libertadores, Mundial, Copa do Mundo: nada é conquistado com falta de determinação, empenho, dedicação, preparo, dieta e apoio psicológico. Isso vale para atletas jovens e de alto rendimento. Mas também para quem enfrenta a obesidade. O caminho é árduo para todos.
Cuidando dos jogadores do time da obesidade há quase 30 anos, sei quanto é difícil convencê-los de que ganharão a partida e de que não há outra opção a não ser jogar. Ficar no banco não é a melhor decisão. Assim como os zagueiros existem para proteger a última linha de defesa antes do goleiro e podem ser uma pedra na chuteira do adversário, os componentes fisiológicos e psicológicos também podem dificultar a partida para os pacientes.
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O que importa é que, junto ao técnico, a partida seja bem jogada e que perseveremos com resiliência. Do contrário, a maca ou o vestiário nos aguarda. No nosso caso, melhor dizendo, o hospital.
Como no esporte, o ideal é que o paciente tenha uma equipe completa, experiente e bem qualificada, composta de médicos, nutricionistas, psicólogos, preparadores físicos… Terá que fazer exames para diagnosticar sua aptidão para o jogo e depois será decidido por qual campo seguirá: o clínico ou o cirúrgico.
O campeonato, em ambos os casos, é longo. Existirão dias de vitórias e outros de derrotas. Pode ser que ele não vença naquele ano, mas a bola continuará em campo e a saúde estará em jogo.
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O futebol tem esse encanto da esperança, de se jogar até o fim. Na obesidade é a mesma coisa: como doença crônica, o jogo pode seguir uma vida toda, mas vale a pena jogá-lo. Afinal, com suporte médico e dedicação, as chances de vencer são enormes.
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