Tamanho é documento? A expressão antiga e cercada de mitos serve de ponto de partida para o urologista Rafael de Moraes Siqueira responder, de maneira direta e com bom humor, perguntas sobre um dos maiores tabus da sociedade: o pênis. No livro Tamanho é documento? – Tudo que você sempre quis saber sobre seu pênis (ed. Matrix), o autor, que virou um fenômeno nas redes sociais, reúne as dúvidas mais comuns dos seus mais de 500 mil seguidores que vão além da anatomia, como autoestima, saúde sexual e quebra de preconceitos. À coluna GENTE, o especialista conta como nasceu o projeto, explica a escolha do humor para abordar o tema do universo masculino e opina sobre a dificuldades dos homens em encarar seus traumas e tabus mais íntimos.
Por que abordar este tema? É um assunto recorrente na minha prática médica diária, mas ganhou força com as redes sociais. Na urologia, a questão peniana sempre esteve presente, mas mais voltado para tratamentos e doenças. A internet me permitiu entender melhor as pessoas e suas necessidades mais simples, que não eram suficientes para buscar uma ajuda especializada, fora o fato do anonimato. Houve também uma mudança de paradigma dentro da própria urologia, que foi a chegada da estética genital.
Por que o tamanho do pênis ainda ocupa um lugar tão central na autoestima masculina? O aparelho genital está no imaginário humano desde sempre, talvez hoje mais do que antes. Uma das primeiras estátuas que conhecemos, a Vênus de Willendorf, apesar de ser uma figura feminina, mostra os seios e as nádegas de forma exagerada, já evidenciando o interesse sobre o aparelho sexual e reprodutor. Por se tratar de algo que escondemos, naturalmente é um objeto de mistério, não costumávamos ter acesso tão fácil para determinar se o tamanho era pequeno ou grande. O problema é que comparamos o nosso com pênis cinematográficos. E aí que começam as frustrações.
Como isso afeta a saúde dos homens? Hoje estamos vivendo uma época de ansiedade de performance. Empresários milionários que acordam às 5h, tomam banho gelado e sobem montanhas. A gente está sujeito a comparação em todas as esferas da vida. Nos cobramos intensamente, ultrapassando os limites da saúde e usando o que podemos e o que não podemos, para buscar um resultado muitas vezes utópico. O tamanho do pênis é um desses aspectos, mas a performance, seja sexual, financeira ou física, é impactada. Quando você começa a ver que tem gente com um pênis maior, uma conta bancária maior, uma capacidade física e intelectual maior, acha que o mundo todo é assim menos você.
O humor é uma ferramenta essencial para quebrar tabus quanto à saúde sexual masculina? O humor agrega, atrai, conforta. Tem o aspecto de quebrar o clima, do inesperado, de subverter as relações, com uma observação inteligente e perspicaz, trazendo todos os envolvidos para um mesmo patamar. É um dos grandes presentes da comunicação da humanidade.
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Por que ainda é tão difícil para muitos homens encarar o desempenho sexual com naturalidade? A culpa é parte integrante dessa vida moderna. Eu mesmo quando acordo tarde – adoro acordar tarde – e já vejo que o tal influenciador já malhou, leu 100 páginas de Cervantes e plantou uma árvore, tudo antes das 7h, me sinto um pouco culpado. Isso acontece em todas as esferas. Sua expectativa tem que ser real, tanto com relação à falha quanto ao desempenho.
Quais são os mitos mais persistentes que encontra e que fez questão de desmistificar na obra? O tamanho do pênis é um tema recorrente. Adoro o argumento que uso: o de jogar vôlei. O tamanho te impede de ser um jogador profissional, mas pode jogar para se divertir, e isso não diminui em nada o seu prazer. Mas trato outros mitos, como o uso indiscriminado de tadalafila (medicamento para disfunção erétil), e de testosterona com finalidades estéticas e de performance. São os dois grandes problemas urológicos atuais.
