O Departamento de Saúde do estado de Luisiana, nos Estados Unidos, confirmou nesta segunda-feira, 6, a primeira morte humana em decorrência de infecção por gripe aviária. O homem tinha mais de 65 anos, relatou comorbidades e contraiu o vírus H5N1 por meio do contato com aves domésticas e silvestres.
O paciente era o primeiro do estado a ser diagnosticado com a infecção e estava internado desde dezembro. Análises genéticas revelaram que uma mutação sofrida pelo vírus dentro do corpo do paciente pode ter levado a maior severidade do caso. “As análises identificaram algumas alterações no genoma viral que estão associadas a uma maior ligação às células humanas”, explica Helena Lage Ferreira, docente-pesquisadora da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV). “Estas mutações não estavam presentes nos animais que foram fontes da infecção, indicando que populações virais com estas mutações emergiram durante a replicação no paciente.”
O que é o H5N1?
O H5N1 não é um vírus novo. Ele foi descoberto em 1996, na China, e é apenas um dos vírus influenza causadores da gripe aviária. Em 2021, no entanto, o subtipo conhecido como gripe aviária altamente patogênica (HPAI, na sigla em inglês) começou a se espalhar e causou diversos surtos ao redor do mundo.
Desde lá a preocupação só aumentou já que, além das perdas econômicas associadas a surtos em aves de criação, o vírus começou a aparecer esporadicamente em mamíferos. Um artigo de 2024, por exemplo, revela que essa infecção foi responsável por um aumento de mortalidade de leões marinhos na costa brasileira. Além deles, o patógeno também já foi identificado em animais como cães, gatos, raposas, tigres, guaxinins e leopardos.
Nos Estados Unidos, há uma epizootia – epidemia em animais não humanos – sem precedentes ocorrendo. “Atualmente existem duas variantes genéticas circulantes do vírus da influenza aviária H5N1 no país”, afirma Ferreira. “Uma encontrada em vacas (genótipo B3.13) e outra em aves (genótipo D1.1).”
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A gripe aviária pode provocar uma nova pandemia?
A maior ocorrência da infecção em mamíferos tem levantado preocupações, já que essa adaptação pode facilitar a ocorrência da doença em humanos. Em 2020 foram identificados os primeiros casos de HPAI na nossa espécie, com o vírus H5N6, na China e em Laos. Já o H5N1, que causa a infecção que gera mais preocupação hoje, só foi identificado pela primeira vez em humanos em abril de 2022.
Desde lá, diversos casos foram registrados ao redor do mundo, mas os Estados Unidos são o local com mais episódios – só em 2024, foram registrados ao menos 65 pessoas infectadas.
Mas qual o verdadeiro perigo de uma nova pandemia? hoje, as autoridades de saúde afirmam que o risco para humanos é baixo, já que o surto está contido e o vírus ainda não é transmitido de humano para humano. Mas isso não quer dizer que não tem com que se preocupar. “O problema é que os humanos não têm anticorpos e proteção contra esse vírus”, afirma Rosana Richtmann, infectologista do Delboni. “Essa é a principal característica das pandemias.”
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A experiência adquirida com a Covid-19, no entanto, é um fator chave. “A vigilância genômica é super importante e a gente deve compartilhar essas informações para acompanhar o curso de patógenos como a gripe aviária H5N1”, diz a biomédica e docente da Escola de Saúde Unisinos, Mellanie Fontes-Dutra, no BlueSky.
E isso tem ocorrido. A maior parte dos países está observando com atenção a ocorrência de novos casos e, no Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária tem feito um monitoramento minucioso dos animais para evitar que o patógeno se espalhe.
Além disso, o desenvolvimento de uma vacina pode ser mais rápido do que para o SARS-CoV-2. Além da tecnologia aprimorada, hoje, existem três vacinas licenciadas nos Estados Unidos para H5N1 anteriores, o Butantan submeteu pedido à Anvisa para iniciar pesquisa com vacina contra gripe aviária em humanos e estudos preliminares com uma promissora vacina universal para a gripe mostrou proteção contra a forma aviária dessa doença.
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