A maioria das pessoas que leram esse título acharam que eu falaria sobre o aparelhinho que estamos usando para ler essa crônica. Porém, trataremos de um universo microscópico. Nosso organismo é composto por bilhões de células que necessitam de uma interação perfeita para realizar suas funções e crescer saudáveis, mas que podem mudar a nossa vida para pior se não forem bem cuidadas.
Fatores externos, como o sol ou o que ingerimos e respiramos, podem alterar essas pecinhas e modificar os mecanismos perfeitos que decorreram da evolução. Tabagismo e obesidade são os principais desses fatores e estão no topo das causas de câncer – e o governo americano acaba de dar um alerta que inclui o álcool nessa lista.
Já perceberam que quando um paciente está em uma crise de asma, ao chegar em uma unidade de saúde, essa falta de ar é rapidamente revertida por meio de nebulização com medicamentos? A via inalatória, ou seja, nossos pulmões, são extremamente eficientes em absorver o que entra. Imagina expor essas sensíveis células a substâncias químicas e tóxicas diariamente e por anos? Além de alterar o funcionamento e crescimento das células dentro dos pulmões, uma carga enorme dessas substâncias ruins são absorvidas, promovendo lesões em vasos e órgãos. Assim, cânceres, derrames, infartos e uma diversidade de outras condições terão grande chance de aparecer.
Assim como o cigarro – ou pior ainda, os vapes – a obesidade está envolvida no aparecimento de uma série de cânceres. Estar obeso faz com que várias substâncias que agridem e prejudicam o crescimento e a eficiência das nossas células sejam produzidas. Essas mesmas moléculas ainda bloqueiam a produção de muitos hormônios que equilibram e protegem nosso organismo. Com isso, é óbvio que a chance de produzirmos células alteradas e que podem se tornar cancerígenas aumenta tremendamente.
E isso se reflete nas estatísticas. A incidência de câncer de cólon (intestino) apresentou um aumento vertiginoso nos jovens entre 15 e 39 anos nos últimos anos e parece ter uma relação direta, mas ainda pouco conhecida, com os alimentos ultraprocessados, o açúcar e o álcool. Não falei iphone 15, falei de câncer com 15 anos!
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Como já dito, somos um “lego” onde tudo deveria se encaixar. É natural que ao nos alimentarmos de algo que foi produzido em laboratório, o nosso organismo tenha dificuldade de lançar mão de células e elementos conhecidos para entender o que está acontecendo. Ele terá que se adaptar e, consequentemente, a chance do câncer aumentará. A liberação de micro plásticos das embalagens também tem sido implicada nessa batalha. Fomos feitos para ingerir plástico? Melhor deixá-los para os celulares…
Outro fator que tem alterado consideravelmente o ciclo hormonal adequado é a carência de sono. No mundo contemporâneo, onde estamos sempre ligados, o dormir mal tem afetado o nosso organismo. À noite, quando descansamos, o nosso corpo se recompõe e libera uma série de hormônios como o do crescimento e até produz melhor o muco que protege a parede dos nossos intestinos de agressões, bactérias e ácidos. Ao dormimos mal, crescemos menos e expomos mais as nossas células intestinais a agressões.
Além de tudo, o meio nada microscópico em que vivemos tem nos influenciado a uma mudança química e radical sobre o que chega ao nosso intestino. O normal seria comermos e bebermos alimentos naturais, com bactérias que só nos são benéficas. Elas entram pela nossa boca junto com os alimentos e dentro dos nossos intestinos se misturam a milhares de outras que já possuímos e que estão envolvidas na absorção, eliminação e equilíbrio do que entra em nosso corpo. É a chamada microflora bacteriana. Esse equilíbrio e troca controlam e protegem nossas funções intestinais. Incluir o álcool e os ultraprocessados de laboratório nesse jogo altera o DNA das células, inibe o crescimento e a produção de hormônios benéficos.
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Talvez vocês estejam corretos e o nosso celular não esteja tão distante assim desse título. Dormimos mal por culpa da excitação provocada pelas telas; comemos errado influenciados pela mídia de alimentos; ficamos sedentários pelo excesso de jogos; paramos de pensar pela repulsa aos textos longos; nos intoxicamos com a fumaça dos cigarros eletrônicos. De celular para celular, há muito que ainda precisamos mudar.
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