Estamos prestes a presenciar o encontro do G20, evento que reúne 20 das maiores economias do planeta, nações com enormes diferenças culturais, sociais e financeiras – dos Estados Unidos à China, da Coreia à África do Sul, da Alemanha ao Brasil. O objetivo do encontro é trocar informações e ideias a fim de pavimentar o caminho para o desenvolvimento global e a melhoria de nossas vidas.
E isso tem tudo a ver com a obesidade. Ao longo da minha carreira dedicada ao tratamento dessa condição, tive a oportunidade de realizar cirurgias bariátricas e dar palestras em inúmeros lugares, bem como debater políticas públicas de prevenção e controle do ganho de peso em ao menos metade dos países do G20.
A obesidade é um problema de todas essas sociedades, mas há um abismo assustador de oportunidades para os pacientes a depender da nação. A diversidade de hábitos alimentares e a estrutura genética e cultural são enormes e, hoje, se misturam em um mundo globalizado, em que a preferência se dá ao produto mais prático e barato. Os efeitos da mudança comportamental se fazem sentir.
Países asiáticos, como China, Japão, Coreia do Sul e Índia, famosos pelos milenares hábitos alimentares saudáveis, hoje vivenciam uma “epidemia” de obesidade com um agravante: os cidadãos têm características genéticas que facilitam o acúmulo de gordura no abdômen, o que favorece o desenvolvimento de doenças metabólicas como diabetes.
Índia e Indonésia, em particular, enfrentam um duplo desafio, multiplicado pelo tamanho de suas populações: vivem o dilema entre a fome e a obesidade.
Tal preocupação se estende ao continente africano, que tem 8 dos 20 países com maior crescimento no índice de obesidade em adultos, mesmo enfrentando escassez de recursos, pobreza e guerras em algumas localidades. Um fenômeno antagônico ocorre nos EUA e no Canadá, onde comida não falta, mas vive-se à base de alimentos de baixo valor nutricional e altamente calóricos.
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E o Brasil? Nosso país apresenta a contradição de ser um dos maiores produtores de alimento, um polo de agricultura e pecuária, mas que ainda não consegue ofertar essa riqueza à boa parte de sua população – sem falar em sua enorme e mal trabalhada área de pesca.
Digo tudo isso porque os assuntos que merecem discussão têm de ultrapassar o óbvio. Não poderemos falar somente de macarrões instantâneos, refrigerantes, biscoitos e lanchonetes. Temos que falar de pessoas, lugares e políticas. Há algo mais urgente a ser resolvido, antes mesmo de tratarmos da relação entre doenças e alimentos ultraprocessados.
Cada um desses países tem uma capacidade de produção, recursos financeiros, distribuição de alimentos e populações completamente diferentes. Precisamos de investimentos em pesquisas para melhorar e aumentar a produção de alimentos nutritivos, não só em grandes fazendas, como também em áreas comunitárias. Investir pesadamente na distribuição interna e no intercâmbio de tecnologias.
Lembrando dos desafios no horizonte, que não são poucos: conflitos armados, disputas territoriais, mudanças climáticas, desigualdade social…
Ainda que consigamos chegar perto desse objetivo, nada mudaria na prevenção dessas doenças se não investirmos em educação. Os países mais populosos apresentam um enorme degrau de escolaridade. Hoje, até mesmo a população de baixa renda tem acesso aos smartphones. A utilização de inteligência artificial produzindo aplicativos e ensino sobre alimentação, agricultura e saúde pode ser uma saída, por que não?
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Temos terras, mar e tecnologia, mas também egos, vaidades, disputa por poder.
Toda a fisiologia humana é coordenada para sobrevivermos nesse planeta. Nosso organismo nos dá fome para comermos, sede para bebermos, vontades para nos reproduzirmos e nos cuidarmos. Mas, de alguma maneira, parece que o mundo, ou ao menos quem está no comando dele, tem outro tipo de fome e sede.
Se não entendermos o que se passa em termos de fisiologia, a doença e a morte virão pela ideologia.
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