Não são só os seres humanos que passaram a conviver com as limitações e os problemas desencadeados pelo envelhecimento populacional e a “epidemia” de obesidade. Os animais de estimação também encaram desafios semelhantes. E, a exemplo da medicina humana, que hoje se vale de uma abordagem interdisciplinar e tecnológica para intervir em quadros capazes de comprometer a qualidade de vida, a veterinária já investe nesse conceito.
É o que comprovamos ao conhecer o primeiro Núcleo de Multicuidados para pets da América Latina, inaugurado nesta quinta, 28, no Hospital Veterinário da USP. O centro contará com profissionais e ferramentas especializados para conduzir pesquisas sobre obesidade, dores crônicas e outras condições, provendo atendimento aos bichos da comunidade.
Um dos grandes destaques é a presença de um equipamento inédito nas Américas, o Dexa, adaptado da medicina humana para a veterinária para mapear a composição corporal dos animais. O aparelho de diagnóstico por imagem utiliza raios X de dupla energia para visualizar a massa muscular, o percentual de gordura e a densidade óssea e foi financiado pela marca de nutrição animal PremieRpet, que desembolsou cerca de R$ 1 milhão no espaço.
Um dos enfoques para os estudos será o excesso de peso entre cães e gatos e suas repercussões à saúde. “Sabemos que a obesidade é um problema grave, e é fundamental conhecer mais o tema. Esse núcleo vai fomentar justamente a geração de novos conhecimentos científicos na área”, diz Ana Carolina Duprat, head de parcerias estratégicas da PremieRpet, empresa que já apóia um centro de pesquisa em nutrição animal da USP em Pirassununga, no interior paulista.
“O Dexa nos ajudará a responder a diversas questões ainda em aberto, como a relação dos depósitos de gordura em algumas áreas do corpo e o maior risco de doenças”, conta o veterinário Thiago Vendramini, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e um dos coordenadores do projeto.
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Segundo levantamento realizado pela USP, ao redor de 40% dos cães no estado de São Paulo estão acima do peso, situação que abre caminho a problemas cardíacos, desgastes articulares, dores e outras condições. “Hoje a obesidade só perde para a doença periodontal [que acomete os dentes e a boca] em prevalência entre esses animais”, contextualiza Vendramini.
Novo núcleo é fruto de parceria com marca de nutrição animal brasileira (Foto: PremieRpet/Divulgação)
Outros alvos e objetivos
Além do equipamento de última geração, que ocupa um dos espaços, o centro no Hospital Veterinário da USP dispõe de uma sala de avaliação clínica, outra para sedação (os animais precisam ser anestesiados para fazer o exame) e um ambiente com esteira convencional e aquática para sessões de fisioterapia e reabilitação.
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“Nessas instalações, poderemos atender pacientes com quadros como dor crônica e doenças osteomusculares que necessitam de avaliação especializada e um plano de reabilitação física, ao mesmo tempo que somamos conhecimento com a realização dos estudos”, diz Maira Formenton, veterinária da USP e uma das integrantes do projeto.
A equipe responsável pelos atendimentos é formada por profissionais ligados a nutrição animal, manejo da dor, fisioterapia e cuidados paliativos. São áreas de atuação que se tornaram ainda mais essenciais com o envelhecimento dos pets e as enfermidades ligadas ao avançar da idade – de problemas reumatológicos a tumores.
“Precisamos desmistificar junto aos tutores conceitos como o de cuidados paliativos, porque a ideia é propor uma abordagem que amplie a qualidade de vida do animal, mesmo diante de doenças mais graves, e também acolha a família”, afirma o veterinário Marco Aurélio de Bene, do Ambulatório de Dor e Cuidados Paliativos da instituição.
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Focado em pesquisa e assistência, o núcleo acompanhará animais que carecem de um cuidado especializado, seja em um programa de emagrecimento, seja para a reabilitação e o controle da dor. “O centro oferece a oportunidade de dar um tratamento de ponta a animais e tutores da comunidade atendidos no hospital veterinário”, diz o veterinário Victor Diniz, assessor de relacionamento científico da PremieRpet.
Esteira aquática é ferramenta para programas de emagrecimento e fisioterapia (Foto: PremieRpet/Divulgação)
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