Seis pacientes submetidos a transplantes de órgãos no estado do Rio de Janeiro foram infectados por HIV, vírus causador da aids, e uma sindicância foi instaurada pela Secretaria de Estado da Saúde para apurar o caso. A informação foi divulgada pela Band News FM Rio e confirmada por VEJA. A pasta classificou o episódio como “inadmissível” e criou uma comissão multidisciplinar para dar suporte aos transplantados. O Brasil realiza transplantes de órgãos desde a década de 1960 e este é o primeiro caso de infecções por HIV pós-procedimento no país.
Os testes para detecção de infecções nos doadores foram realizados pelo laboratório privado PCS LAB, de Nova Iguaçu, contratado em dezembro do ano passado por meio de uma licitação realizada pela Fundação Saúde. Segundo a secretaria, o serviço foi suspenso assim que houve a confirmação dos casos e a unidade foi interditada. Os testes estão sendo feitos agora pelo Hemorio.
Em entrevista à rádio, a secretária estadual da Saúde do Rio de Janeiro, Claudia Mello, informou que a primeira notificação ocorreu em 13 de setembro e todos os exames foram transferidos para o Hemorio. No último dia 2, ocorreu a segunda confirmação. Os testes iniciais, realizados pelo laboratório antes do transplante, tiveram resultado negativo. Depois, houve a confirmação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Ministério da Saúde já foram notificados.
Diante da confirmação de infecções pelo vírus, um processo de reavaliação de todas as amostras de sangue de doadores armazenadas a partir de dezembro de 2023 foi iniciado.
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A pasta informou que a sindicância aberta terá como objetivo “identificar e punir os responsáveis”. “A Secretaria de Estado da Saúde considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados”, informou, em nota.
De acordo com a secretaria, o serviço de transplantes do estado “sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.
Episódio raro
Coordenadora da Comissão de Infecção em Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Lígia Pierrotti explica que a contaminação dos pacientes é um caso raro e sem precedentes.
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“Isso não é para acontecer, porque o processo de doação de órgãos para transplantes segue uma norma muito rigorosa com rastreio para HIV, hepatites, doença de Chagas e outros vírus e infecções com testes sorológicos de alta qualidade. É muito raro ter uma transmissão de agentes atípicos. O Brasil reconhecimento mundial na realização de transplantes.”
Segundo Lígia, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) também atua com normas rigorosas e afirmou que os casos registrados no Rio de Janeiro desencadearam a rápida atuação da Anvisa, além acionamento de todas as centrais de transplantes do país, que estão cientes do caso.
Ela diz que a prioridade tem de ser para o atendimento dos transplantados e investigação do caso. “Este é um evento adverso gravíssimo. Sempre um caso de transmissão tem de ser investigado e é necessário dar todo apoio e tratamento a esses pacientes.”
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