Especialista diz que a doença pode não provocar sintomas mesmo quando está fora do controle, colocando o coração e a circulação de todo o corpo em risco
O último levantamento da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, revelou que a hipertensão afeta 27,9% da população brasileira. O cardiologista Bruno Gustavo Chagas (CRM-RO 4359 e RQE 1140) comenta que a hipertensão danifica artérias, forçando o coração e desgastando órgãos importantes, como os rins e o cérebro, sem que a pessoa saiba ou perceba, pois enquanto o indivíduo se sente bem, o coração bate mais forte para vencer a pressão dos vasos sanguíneos. O especialista alerta que se a hipertensão não for tratada, o problema se agrava cada vez mais, já que a doença pode ser negligenciada por muitos anos. “É comum descobrir isso após ter um problema grave, como uma crise de hipertensão, um infarto ou um AVC. A boa notícia é que, ao reconhecer e tratar com responsabilidade, conseguimos controlar esse ‘inimigo oculto’. Aferir a pressão e fazer exames mesmo quando não tem nenhum sintoma, e adotar um estilo de vida saudável são atitudes que identificam a hipertensão e, talvez, outras alterações antes que causem estragos”, aponta.
Valores da pressão arterial
Segundo o médico, as regras mais recentes da American College of Cardiology (ACC) e da American Heart Association (AHA) mostram que a pessoa é considerada hipertensa quando tem uma pressão arterial sistólica (máxima) de 130 mmHg ou mais, ou uma pressão arterial diastólica (mínima) de 80 mmHg ou mais (13 por 8). Já a pressão arterial sistólica menor que 120 mmHg e a pressão arterial diastólica menor que 80 mmHg, ou seja, até 119/79 mmHg, é considerado um valor normal.
Bruno explica que a emergência hipertensiva acontece quando a pressão arterial está acima de 180/120 mmHg (18 por 12), havendo sintomas característicos e específicos de acometimento de algum órgão, principalmente coração, artérias, cérebro, rins e olhos. Isso pode incluir problemas como encefalopatia, hemorragia intracerebral, acidente vascular cerebral isquêmico, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca com edema pulmonar, angina instável, aneurisma aórtico, insuficiência renal aguda e eclâmpsia. “A distinção entre emergência hipertensiva e urgência hipertensiva é crucial, sendo a última uma elevação severa da pressão arterial sem danos agudos ou iminentes aos órgãos-alvo. Em casos de urgência, não é necessário reduzir a pressão arterial imediatamente, bastando ajustar a terapia que já existe. Se você estiver com pressão alta, precisa de ajuda médica imediatamente”, esclarece.
Sódio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as pessoas não devem ultrapassar dois gramas de sódio diários porque é um limite de segurança para o coração e vasos sanguíneos. Entretanto, o cardiologista lembra que a maioria ultrapassa esse valor quase sem perceber, uma vez que o problema vai além do sal colocado na comida (alimentos processados, enlatados, embutidos e temperos prontos). “Leia os rótulos, cozinhe em casa e prefira alimentos frescos. Descasque mais, desembale menos, prefira alimentos da terra, água e ar. O sal pode ser substituído por temperos naturais, como ervas e especiarias, que dão sabor sem doer o coração. O sal ativa o prazer, mas quando reduzimos o sódio, percebemos que o sabor natural dos alimentos é ainda melhor”, observa.
Genética
De acordo com o cardiologista, ter um histórico familiar não significa que o indivíduo vai desenvolver hipertensão. Ele enfatiza que a genética pode ser vista como predisposição para certas doenças, mas o estilo de vida, isto é, a epigenética, pode atrasar ou até evitar início. Para quem tem essa herança no DNA, o médico orienta cuidado e atitudes preventivas, como alimentação saudável, exercícios físicos, controle do peso e técnicas para diminuir o estresse emocional. “Cuidar do coração com consciência pode ajudar a mantê-lo saudável, superando limites impostos pela genética”, afirma.
Crianças e adolescentes hipertensos
Conforme Bruno, a incidência está cada vez maior, preocupando pais e profissionais de saúde. Nas crianças, a hipertensão pode estar relacionada ao estilo de vida — comer muito (incluindo o sal) e ficar muito tempo em telas.
O aumento de alimentos processados, o tempo excessivo em frente às telas e a falta de atividade física favorecem a pressão alta nas idades mais jovens. O médico ressalta que, às vezes, a hipertensão pode ser causada pela genética ou por problemas médicos, como doenças renais.
O tratamento da hipertensão em crianças precisa da ajuda da família. O primeiro passo é ajustar os hábitos. É essencial incluir uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e alimentos frescos, com baixo consumo de sódio. Incentivar atividades físicas auxilia o controle do peso, fortalece o coração e reduz a pressão. O cardiologista chama a atenção que, se a pressão estiver alta, o médico pode prescrever remédios até ser corrigida a causa do problema. O tratamento para hipertensão em crianças, como reitera o especialista, busca corrigir o estilo de vida, com a família envolvida, para ajudar a recuperar a saúde do coração infantil. “A pressão alta na infância alerta, mas também ensina desde cedo a cuidar do corpo”, salienta.
Tratamento
Reduzir o sal (sódio): comer mais frutas, vegetais e alimentos integrais é uma boa mudança. Ter uma dieta rica em potássio, cálcio e magnésio ajuda a controlar a pressão. A adoção da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), rica em frutas, vegetais, grãos integrais e laticínios com baixo teor de gordura, e a redução da ingestão de sódio são altamente recomendadas.
Exercício regular: movimentar o corpo não só fortalece o coração, mas também controla o peso, alivia o estresse, melhora o metabolismo da glicose e do colesterol. Caminhadas, corridas e danças fazem bem. É preconizado pelas sociedades mundiais de cardiologia que 150 minutos de exercício físico de moderada intensidade por semana já é suficiente — 30 minutos por dia, de segunda a sexta-feira, ou 40 minutos por dia, três dias na semana.
Gerenciar e reduzir o estresse emocional: é importante para diminuir a pressão arterial. Aprender a respirar, meditar ou reservar um tempo para si, para momentos de calma, ajuda a reduzir a carga do coração. Em casos de ansiedade e depressão, a terapia cognitivo comportamental é indicada.
Medicamentos para manter a pressão controlada: a boa notícia é que com o tempo, a dose pode ser reduzida e, às vezes, o medicamento pode ser suspenso pelo médico se a causa da elevação dos níveis da pressão arterial for resolvida — sobrepeso/obesidade, estresse emocional, insônia, alimentação insana, tabagismo e sedentarismo.
Conheça e acompanhe sua pressão com frequência: tenha um aparelho de aferição em casa e verifique sempre, pelo menos a cada 15 dias. Saiba como está sua pressão mesmo se você estiver bem e perceba como seus hábitos afetam sua saúde.
Dormir bem: uma boa noite de sono repõe as energias, repara o corpo, reduz o estresse e regula a pressão arterial.
Não desista: controlar a hipertensão é uma jornada. Às vezes pode ser difícil ver os resultados, mas cada atitude conta.
“Cuidar da hipertensão é cuidar do seu corpo, cuidar de você. Cuidando bem, terá um futuro melhor e mais seguro. Lembre-se: o coração precisa de você. Com atenção e carinho, é possível viver bem, sem o medo de antes”, finaliza.