Especialista diz que pacientes em cuidados paliativos não necessariamente são terminais
A oncopediatra Mariana Dórea (CRM-BA 23.959 e RQE 26.148) esclarece que os cuidados paliativos são um conjunto de ações que visam a melhoria na qualidade de vida dos pacientes com doenças graves e também de sua família. O objetivo principal é que esse paciente não sofra, garantindo-lhe conforto.
A especialista conta que serão dados medicamentos para alívio da dor e acompanhamento das questões emocionais. “Para a medicina moderna, é um avanço no cuidado do paciente. O cuidado não acaba quando as opções terapêuticas se esgotam”, afirma.
Segundo a médica, é fundamental capacitar os profissionais da saúde acerca dos cuidados paliativos. Ela comenta que eles saberão oferecer o melhor suporte possível para os pacientes e seus familiares, uma vez que essa capacitação não apenas melhora a habilidade deles de manejar questões clínicas, como também fortalece sua competência de apoiar as famílias durante momentos difíceis.
Mariana destaca que é preciso uma equipe multidisciplinar atuando nos cuidados paliativos. Ela pontua que, por exemplo, a psicologia é indispensável. “Nas questões espirituais, eu respeito todas as religiões e sempre trago Deus nas minhas conversas. Lidar com a perda não é e nunca será fácil. Tento sempre lembrar que aquele que amamos pode estar sofrendo. Temos que deixá-lo descansar. É o momento em que esquecemos nosso egoísmo de lado”, aponta.
A especialista cita a integração precoce, abordagem personalizada, uso de tecnologia, educação e treinamento, melhoria nas pesquisas e evidências quando mencionamos os progressos dos cuidados paliativos. Ela argumenta que existe uma maior integração nos sistemas de saúde públicos e privados, garantindo que todos os pacientes tenham acesso oportuno e adequado a esses serviços.
Para a oncopediatra, a utilização de tecnologias avançadas para melhorar a comunicação e o monitoramento de sintomas permite cuidados mais eficazes e acessíveis. Ela observa também que a humanização do cuidado pode transformar a experiência de pacientes em final de vida, pois todas as decisões e intervenções devem respeitar os valores e preferências deles.
Experiência clínica
Conforme a médica, a história que a impactou nestes anos de atendimento foi a de uma criança de cinco anos que estava em cuidados paliativos no Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), em Salvador, na Bahia, hospital onde a oncopediatra fez residência. “Todos os pacientes passam com a médica e a enfermeira e recebem todos os cuidados e informações necessárias. Quando essa criança foi internada, ela sentia muita dor e começou a pedir que eu desse o remédio que usam para dormir (Midazolam). Eu disse que só poderia dar com autorização da mãe. Quando a mãe soube que a filha queria remédio para dormir, ela se desesperou e começou a dizer para a menina que, se ela dormisse, nunca mais iriam conversar. A garotinha olhou e falou para aquela mãe que não aguentava mais. Foram palavras que nunca esqueci. Ela tinha percepção da dor e do seu sofrimento”, finaliza.