Ciência tem avançado no entendimento do papel de suplementos nutricionais no fortalecimento do sistema cardiovascular, oferecendo soluções eficazes, acessíveis para prevenir e controlar fatores de risco como hipertensão arterial, colesterol elevado, inflamação subclínica e até mesmo insuficiência cardíaca
Cuidar do coração vai além de evitar alimentos gordurosos ou praticar exercícios físicos. Suplementos específicos podem complementar a dieta e oferecer benefícios adicionais, melhorando a qualidade de vida e prevenindo problemas graves. No entanto, a saúde cardiovascular é um equilíbrio delicado. Segundo o cardiologista Bruno Gustavo Chagas (CRM-RO 4359 e RQE 1140), o indivíduo deve consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação. A seguir, saiba quais são os principais.
Homocisteína
É um aminoácido que, quando em níveis elevados, pode danificar as artérias, favorecendo a formação de placas e o risco de lesões com coágulo e desencadear o infarto e AVC (acidente vascular cerebral). Para mantê-lo sob controle, o trio de vitaminas B6, B9 (ácido fólico, associado a uma redução no risco de AVC) e B12 é essencial, além da N-Acetilcisteína, o SAMe (S-Adenosil Metionina) e a Trimetilglicina.
O médico comenta que esses nutrientes atuam convertendo a homocisteína em compostos inofensivos, protegendo as artérias. Há impacto positivo na saúde mental, do Sistema Nervoso Central, redução da ansiedade, melhora do humor. O SAMe pode ter efeitos neuroprotetores, melhorando a função cognitiva, reduzindo o estresse oxidativo e a neuroinflamação em modelos de envelhecimento cerebral induzido. Ademais, pode melhorar a coordenação motora e reduzir a perda neuronal dopaminérgica em modelos de neurodegeneração. Também é eficaz na melhora de parâmetros hepáticos atuando como agente metilante e protetor contra a toxicidade de radicais livres, além de atenuar a DHGM (Doença Hepática Gordurosa Metabólica) induzida por ácidos graxos e o estresse oxidativo em células hepáticas e endoteliais, sugerindo aplicações benéficas em distúrbios metabólicos.
Fontes suplementares recomendadas para a vitamina B6, na forma de Piridoxal 5 fosfato, é de 10 miligramas (mg)/dia. Já o ácido fólico (B9), na forma de metilfolato, é de 400 a 800 microgramas (mcg)/dia. A vitamina B12, na forma de metilcobalamina, 500 a 1.000 mcg/dia. “Precisam ser usados por via sublingual ou injetável, por haver alta incidência de baixa absorção via gastrointestinal”, recomenda.
Menaquinona (MK-7)
O cardiologista pontua que a vitamina K2, particularmente na forma de Menaquinona-7 (MK-7), é fundamental para evitar a calcificação arterial. Ela direciona o cálcio para os ossos, evitando o acúmulo em artérias e válvulas cardíacas, onde pode causar enrijecimento e aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Entre os benefícios, pode-se citar a redução da rigidez arterial, melhora da elasticidade dos vasos, prevenção da progressão da aterosclerose e de doenças das válvulas cardíacas. A dose recomendada é de 100 a 200 mcg/dia.
Fórmula de Sinatra: apoio à função cardíaca
A fórmula desenvolvida pelo Dr. Stephen Sinatra é amplamente reconhecida no manejo da insuficiência cardíaca e no suporte energético do músculo cardíaco. Os componentes-chave incluem:
A-Coenzima Q10 (CoQ10): melhora a produção de energia celular e também demonstrou diminuir a mortalidade por todas as causas. A dose recomendada é de 200 a 400 mg/dia.
B-D-Ribose: um açúcar natural que reabastece rapidamente o ATP (energia celular), crucial para pacientes com insuficiência cardíaca. A dose recomendada é de 5 a 10 gramas(g)/dia.
C-L-Carnitina: auxilia no transporte de gorduras para produção de energia no coração. A dose recomendada é de 1 a 3 g/dia.
D-Magnésio na forma de Bisglicinato, Dimalato ou Taurato: relaxa os vasos sanguíneos e estabiliza o ritmo cardíaco. A dose recomendada é de 200 a 400 mg/dia.
E-L-arginina: a suplementação de L-arginina tem sido estudada por seus potenciais benefícios cardiovasculares, principalmente devido ao seu papel como precursor do óxido nítrico (NO), um vasodilatador que pode ajudar a reduzir a pressão arterial. Conforme o especialista, uma meta-análise recente demonstrou que a suplementação de L-arginina pode reduzir significativamente a pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) em adultos, com uma diminuição média de 6,40 mmHg na PAS e 2,64 mmHg na PAD. Esses efeitos foram observados independentemente do estado de saúde, sexo, ou índice de massa corporal dos participantes, embora não tenham sido significativos em indivíduos obesos ou com doses superiores a 9 g/dia. “A L-arginina pode melhorar a função cardíaca e a qualidade de vida em pacientes com insuficiência cardíaca, como evidenciado por melhorias na fração de ejeção e na função ventricular esquerda. Em pacientes que passaram por reabilitação cardíaca após infarto do miocárdio, a L-arginina mostrou potencializar a capacidade física, melhorando a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos”, esclarece.
Creatina
Embora conhecida por seu uso em esportes, a creatina também beneficia o coração. Ela melhora a disponibilidade de energia celular, sendo especialmente útil em condições de insuficiência cardíaca e para pacientes que apresentam cansaço crônico. A dose recomendada é de 3 a 5 g/dia.
Beterraba
Rica em nitratos, convertidos em óxido nítrico no organismo, promove vasodilatação, reduzindo a pressão arterial. O médico sugere suco de beterraba ou suplementos padronizados em nitratos (500 a 1.000 mg/dia).
Chuchu
Conhecido como um “diurético natural”, o chuchu ajuda no controle da pressão arterial ao reduzir o excesso de líquidos e promover a saúde renal. A sugestão do especialista é consumir regularmente no preparo de alimentos ou chás.
Niacina: controle do colesterol e dos triglicerídeos
A niacina é um dos suplementos mais eficazes para melhorar o perfil lipídico, aumentando o colesterol HDL (o “bom”) e reduzindo LDL e triglicerídeos. Bruno conta que é melhor na forma de hexanicotinato de inositol (Niacina No Flush), por ser uma maneira que reduz os efeitos colaterais, como a vermelhidão na pele. A dose recomendada é de 500 a 1.500 mg/dia, ajustada conforme necessidade clínica.
Ômega-3
Os ácidos graxos ômega-3 têm mostrado redução na mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio e eventos de doença coronariana. A suplementação, especificamente ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA), é recomendada para benefícios cardiovasculares em diferentes dosagens, dependendo do contexto clínico.
Para a prevenção primária de doenças cardiovasculares, a ingestão de 250 a 550 mg por dia de EPA e DHA está associada a uma redução significativa no risco de morte por doença coronariana (CHD) e na mortalidade total. “A American Heart Association (AHA) recomenda o consumo de uma a duas refeições de frutos do mar por semana, equivalente a cerca de 250 mg por dia de EPA e DHA, para reduzir o risco de CHD, acidente vascular cerebral isquêmico e morte súbita cardíaca”, revela.
Na prevenção secundária, como aponta o cardiologista, especialmente em indivíduos com doença coronariana conhecida ou insuficiência cardíaca, a ingestão de pelo menos 800 a 1.000 mg por dia de EPA e DHA é recomendada. Em pacientes com níveis elevados de triglicerídeos, a AHA recomenda doses mais altas, de 2 a 4 g por dia de EPA e DHA, para reduzir os níveis de triglicerídeos.
Além disso, Bruno cita que o estudo REDUCE-IT demonstrou que 4 g por dia de icosapent etil (uma forma purificada de EPA) reduziu eventos cardiovasculares em pacientes com risco elevado de doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD) e triglicerídeos elevados, quando usado como adjuvante à terapia com estatinas. “Essas recomendações são baseadas em evidências de estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados que demonstraram os benefícios cardiovasculares dos ácidos graxos ômega-3”, pondera.
Vitamina D
Níveis adequados de vitamina D (Colecalciferol) estão associados à redução do risco de hipertensão arterial, melhora da função endotelial e diminuição de eventos cardiovasculares. A dose recomendada é ajustada de acordo com a dosagem sérica, geralmente entre 1.000 e 7.000 UI/dia.
Resveratrol
Um potente antioxidante encontrado no vinho tinto e em uvas escuras, o resveratrol melhora a saúde vascular, reduz o estresse oxidativo e apoia a longevidade celular. A dose recomendada é de 100 a 500 mg/dia.
Extrato de alho envelhecido
Evidências indicam sua capacidade de reduzir a pressão arterial, melhorar a elasticidade arterial e reduzir o colesterol LDL oxidado. A dose recomendada é de 600 a 1.200 mg/dia.
L-Citrulina
Precursor do óxido nítrico, promove a vasodilatação, melhorando a circulação e reduzindo a pressão arterial. A dose recomendada é de 3 a 6 g/dia.
Suplementos não recomendados ou que exigem cautela
O especialista lembra que, embora muitos suplementos sejam benéficos para a saúde cardiovascular, alguns podem causar efeitos adversos ou apresentar riscos quando utilizados de maneira inadequada. É importante estar atento às evidências científicas e evitar o uso de suplementos que comprometam a saúde do coração, como:
Cálcio em excesso e sem componentes associados obrigatórios: a suplementação de cálcio sem necessidade pode aumentar o risco de calcificação arterial, contribuindo para o enrijecimento das artérias e aumentando o risco de infarto e AVC. Priorize fontes alimentares de cálcio e, se necessário, associe sempre à vitamina K2 (menaquinona-7), ao magnésio e à vitamina D para evitar a deposição de cálcio nas artérias.
Suplementos estimulantes (cafeína, efedrina e similares): podem aumentar a frequência cardíaca, elevar a pressão arterial e desencadear arritmias, especialmente em pessoas sensíveis ou com histórico de doenças cardíacas. Evite o uso indiscriminado desses produtos, especialmente aqueles comercializados para “aumento de energia” ou emagrecimento.
Betacaroteno em altas doses: estudos indicam que altas doses podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares, principalmente em fumantes ou pessoas expostas a toxinas. Prefira consumir carotenoides por meio de uma dieta rica em vegetais coloridos, em vez de utilizar suplementos isolados.
Vitamina E: a suplementação em altas doses, na forma isolada de alfa-tocoferol, pode aumentar o risco de insuficiência cardíaca e eventos cardiovasculares. Caso seja necessário suplementar, opte por complexos que incluam todas as formas de tocoferóis e tocotrienóis.
Suplementos de ferro sem necessidade: o ferro é essencial para o organismo, mas sua suplementação indiscriminada pode levar a sobrecarga, que está associada a maior estresse oxidativo e danos vasculares. A suplementação só deve ser realizada em casos de deficiência comprovada.