Nesta matéria, a geriatra fala diretamente ao profissional da saúde, cuidador de pessoas doentes ou que assiste algum familiar adoecido
Conforme a médica Ana Claudia Quintana Arantes (CRM-SP 76.851), especialista em geriatria com formação avançada em Cuidados Paliativos e pós-graduada em Psicologia — Intervenções em Luto, desde o nosso nascimento somos cuidados. Por mais independentes que sejamos ao longo da vida, chegará o momento em que precisaremos de alguém ao nosso lado para nos fornecer assistência.
A especialista acredita que, seja por escolha ou pela inevitabilidade da vida, o trabalho de cuidar é bastante exaustivo. A geriatra conta que mesmo diante de todos esses anos de experiência como médica, ela passa por momentos de cansaço. “Não sou uma espécie de super-heroína inabalável e incapaz de sentir os baques da profissão que escolhi. Nem você. Quem cuida, sabe que o conhecimento técnico não é o suficiente. Não basta saber trocar uma fralda, preparar um alimento adequado ou fazer um curativo. Estamos lidando com pessoas, suas histórias e seus sentimentos”, aponta.
Para Ana Claudia, é inevitável não haver envolvimento emocional com quem está sob nossos cuidados, pois não existe a possibilidade de chegarmos em casa e simplesmente desligarmos o botãozinho que nos conecta com aquela pessoa. “Torcemos pela melhora, por dias melhores. Mas, infelizmente, há muitos casos difíceis em que não há nada que possamos fazer a não ser cuidar da maneira mais íntegra e presente possível”, afirma.

De acordo com a geriatra, há situações em que estamos entrelaçados com os indivíduos que cuidamos. Ela explica que deixamos de lado uma parte de nós, como, por exemplo, as caminhadas no fim do dia, a alimentação saudável, a leitura de bons livros antes de dormir, ou seja, estamos tão obstinados a cuidar do outro que ficamos em segundo plano. A médica diz que isso é bem comum de acontecer, no entanto, é preciso se prevenir para evitar o esgotamento do corpo e da alma. “Dedique-se ao seu trabalho com toda a amorosidade que existe dentro de você. Lembre-se das coisas de que gosta e que te fazem feliz. Olhe com mais carinho para dentro de si”, recomenda.
Segundo a especialista, ao estarmos alinhados com o que nos faz bem, conseguimos expressar o nosso melhor e ter dedicação no cuidado do corpo e da mente saudável. Entretanto, é importante avaliar o quanto essas histórias impactam a saúde emocional. Além disso, Ana Claudia pontua que, por vezes, é necessário um suporte psicológico. “Cuidamos do outro por amor, necessidade, respeito e compaixão. É isso que merecemos também”, finaliza.